sexta-feira, 5 de junho de 2009

quem de nós

Lembra daquelas terças feiras imensas em que a gente sacudia o mundo só com as palavras que ninguém tinha coragem de dizer?
A gente chegava de mansinho, cada um na sua vez, e se olhava entre os silêncios com a certeza de uma noite longa pela frente. Os pensamentos vagavam e no começo reinava a paciência coletiva. Sabíamos bem quanta loucura estava adormecida a espera da usual iniciativa para o despertar.
Aguardávamos na sala da espera, para qual sempre nos dirigíamos com a certeza de nosso encontro, sem marcar ou combinar porque era simplesmente ali, todas as terças feiras....
Seguíamos para lá por não considerar qualquer outro destino uma opção.
E pode até ser, sempre um de nós era ausente, mas nada podia nos tornar incompletos.
Partíamos então em marcha para a segunda fase da noite, e apontávamos para lua, culpada de toda nossa vontade transcendental.
Já estávamos munidos contra a auto censura, quando no apartamento podíamos jogar nossos corpos naquele caldeirão de ideias febris. Primeiro, amaciávamos bem lentos, prestes a parir a sentença final sem nenhuma conclusão.
Já não lembro bem quantas verdades escarrávamos ou até mesmo o quanto engulirmos de nós mesmos. E nossa embriaguez era tão fácil que já não entendíamos o porque do cotidiano.
Houve um dia em que queríamos calar as conversas, mas invadia uma pressa tão grande de existir... era mais uma dessas terças-feiras.
Eu bem queria torná-las pra sempre, colocá-las no ciclo do meu destino essas terças feiras. Seria o mesmo esconderijo, pra onde a gente pode escorrer sem se preocupar.
Ora, o que me preocupa é se ele também pertence a vocês como a mim. Porque tudo que agarramos pode esfarelar bem assim na nossa mão. E a gente não podia pensar assim, imagina se um ousasse: guardarei essas terças feiras para mim!
Nem daria para saber qual de nós trancou o nosso dia, e a chave embaixo do tapete não adianta, se não podemos mais ver a terça feira chegar...